Acompanho com admiração o trabalho de Omar Souto desde o início da década de 80 (ele pinta desde 1971), e posso dizer que conheço o seu trabalho por inteiro, em uma observação do tema, da cor, das suas motivações ambientais, ou metáforas.
Tenho observado a arte brasileira, suas peripécias, entre os motivos temáticos de origens locais, essa arte que fala diretamente às nossas almas sem subterfúgios, repletas de símbolos e significados nacionais, e uma "outra" arte que viceja no país, mas com "sentimentos" alienígenas à nosso amálgama cultural, nasce entre nós, é fato, mas com vícios de ordem formal e conceitual, repletos de signos importados de outras situações provenientes dos chamados "Grandes centros" , ou das vogas impostas pelas correntes internacionalistas, uma imposição imperativa do hegemônico mercado gestado nos grandes centros do capitalismo...
Mas isso não se aplica à obra de Omar Souto, ele consegue ser universal de dentro pra fora, da sua "aldeia" para o mundo..., o seu conteúdo pictórico é goiano, brasileiro, e consequentemente é universal.
Omar é o tipo de artista que passa a impressão de que nasceu tão espontâneo que seu trabalho, não teve as etapas de experimentalismos corriqueiros, muito comuns à tantos artistas, sejam eles de qualquer lugar; desde os primórdios de suas pinturas, ele passeia por temas que vão desde o sagrado até o profano, no entanto esses temas se entrelaçam sem chocar a sensibilidade do espectador. Há um ludismo, uma doce inocência em seus personagens, sejam eles de cunho mundano ou religioso.
O artista de origem humilde, nasceu em uma fazenda no município de Heitorai, Estado de Goiás, e com muito humor ele diz que comemora o aniversário duas vezes por ano, pois nunca chegou a saber se nasceu em 04 de junho ou 04 de julho de 1947. Sua mãe dizia que foi 04 de junho. Já seu pai era categórico em afirmar que foi em julho. Por via das dúvidas, ele comemora as duas datas. Mas o que convém analisarmos, é sua singular trajetória até chegar a ser o grande artista que ele é, no cenário nacional e até internacional.
Omar Souto é filho de Aurélio Pereira Souto e Dona Osana, a primeira vez que ouviu falar de pintura, enquanto arte, foi quando mudou com a família para Itaberaí. Nessa cidade, ele trabalhava de pedreiro, e foi ajudar seu pai a pintar algumas paredes. Assim, acabou conhecendo um artista da cidade de nome Caramuru, e influenciado por esse mestre que alem da pintura à óleo, ele pintava com a técnica de areia colorida, ele ensinou as primeiras técnicas da pintura à óleo para o neófito Omar.
De Itaberai, Omar foi morar em Goiânia, e trabalhou no ofício de pintor de paredes e pintor de letreiros comercial, no qual nessa prática da pintura de publicidade, eu consigo ver uma conexão com certos aspectos populares de suas composições, de uma elegante simplicidade.
Em 1971 ele participou pela primeira vez de uma exposição, na lendária LBP Galeria em Goiânia, e ficou amigo de grandes artistas da cidade, tais como Maria Guilhermina e Siron Franco. No entanto uma pessoa que deu uma importante atenção e dinâmica na carreira artística de Omar Souto foi a proprietária da então mais proeminente galeria de arte do Estado na decada 80, a Casa Grande Galeria de Arte, da saudosa Célia Câmara, que impulsionou sua carreira de pintor em termos de mídia e mercado.
Dentre os prêmios que deu destaque à sua carreira artística o prêmio "FUNARTE " no 3° Salão do Banco Caixego tem importância no sedimento curricular do artista, mas em 1988, o então Governador de Goiás Henrique Santillo, encomenda uma série de 14 painéis sacros que adornam a Rodovia dos Romeiros no trecho entre Goiânia e Trindade. E essa Galeria à Céu Aberto, é uma emblemática e importante obra que Omar Souto lega para a posteridade, e deleite dos milhares de Romeiros que transitam pelo local.
O Brasil ainda não mapeou a expressão da brasilidade que tange a nossa identidade artística e cultural, estamos ainda muito dependente de fatores externos inerentes aos ditames e lobys que segregam os paises emergentes. Mas um artista de uma consciência e fecundidade do porte de um Omar Souto, seguramente tem uma expressão pictórica que se escreve com letras maiusculas no léxico da arte Goiana, Brasileira e sem nenhuma dúvida uma arte universal.
Nonatto Coelho.
Artista e pesquisador
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