Numa casa de alpendre

construção à moda antiga

no centro de Goianira

mora minha grande amiga.

Numa esquina atrás da Igreja

a Católica, eu digo,

imóvel que há muitos anos

da família, é abrigo.

É Celestina Cardoso

por "Celeste" conhecida

quem a vê muito admira

por ser exemplo de vida.

Hoje é seu aniversário

e a quero cumprimentar,

não sem antes ao leitor

a sua vida contar.

Minha amiga era casada

e, casada de "fresquinho"

marido foi "uma pedra"

no meio do seu caminho.

Em viagem que fizeram

ano de "75"

um acidente se deu

e lhes conto com afinco.

O "se beber não dirija"

não fora observado

marido estava "de fogo"

ou seja, embriagado.

Regressando de passeio

a uma vizinha cidade

eis que num piscar de olhos

se deu a fatalidade.

O acidente aconteceu

com todos ficando feridos

mas, ato contínuo foram

por terceiros socorridos.

No total, 5 pessoas

ficando "desacordadas"

Celeste pra trás ficou

(buraco às margens da estrada).

Só depois se percebeu

com todos ficando assustados

que mais uma acidentada

pra trás havia ficado.

Na verdade, a mais grave

dentre todos os demais,

talvez pela circunstância

de haver ficado pra trás.

Foi aí que começou

a saga da paciente

tratamento prolongado

na boca, quebrados dentes.

No corpo se deu fraturas

muito generalizadas

eis porque há meio século

se encontra acamada.

Veja bem a nossa vida

como muda de repente

Celestina do passado,

ter ficado tão doente.

O grave de tudo isso

eu conto aos meus leitores

trás certa indignação

então, vejamos, senhores.

Celestina era casada

conforme atrás fora dito

havia nascido um filhinho,

um menininho bonito.

Contava apenas 1 ano

quando tudo aconteceu

ainda bem que não estava

quando o acidente ocorreu.

Devido às graves lesões

em minha amiga querida

fatos supervenientes

transformaram sua vida.

Pois se tornou paraplégica

do marido dependente

sem qquer perspectiva

da vida de antigamente.

Marido não aguentou

diante da "barra pesada"

preferindo "dar no pé",

a cuidar de sua amada.

Levou consigo o filhinho

de pouco mais de 1 ano

e pouco tempo depois,

com outra estava casando.

Na verdade foi omisso,

irresponsável também

se o seu primeiro amor

trocou por outro alguém.

(Às vezes eu me pergunto

como fica a consciência

de quem desse modo age,

sem qquer benevolência).

A "ex" perdeu a saúde,

o filhinho e o marido

só por causa da "cachaça"

que ele havia ingerido.

Em troca" ganhou de presente

uma imobilidade

que há quase 50 anos

lhe tira a agilidade.

Cidade de Goianira

é onde mora a guerreira

nos ombros trazendo a cruz

que a acompanha a vida inteira.

É cruz que ela conduz,

sem contudo, reclamar

daí, o EXEMPLO DE VIDA

que estou a demonstrar.

Até porque no passado

usando as mãos de terceiros,

até escreveu um livro

mas, sem mostrar desespero.

Na obra que editou contando a sua vida

perdoou o ex-marido,

minha amiguinha querida.

Já foi uma linda moça

e teve fãs no passado

contadora de piadas

alegrava o seu "quadrado".

Hoje vive numa cama

corpo meio atrofiado

contudo, não se entrega,

é um SER iluminado.

O "Assis Chateubriand"

colégio em que estudamos

na "Campininha das Flores"

há mais de 50 anos.

Ao passar perto me lembro

tá no meu imaginário

sobretudo em dezembro,

quando faz aniversário.

Pra essa amiga do peito

que outra igual nunca vi

dedico todos poemas

que até hoje escrevi.

Poemas que no futuro

em livro transformarei

e um exemplar, com carinho,

a ela oferecerei!

(*) Valdecy Borges é jornalista e advogado (UFG), filho de Arnaldo Fernandes e de dona Jacy Borges, fundadores do distrito de Jacilândia no município de Itapirapuã. Valdecy nasceu em Bonfinópolis-GO em 1948, morou em Itauçu, mudou-se para Jussara em 1955. Atualmente reside em Goiânia.