Ontem me submeti

à Químio número 3

com o uso do CATETER

já pela 3a vez.

Solução tão acertada

do meu médico assistente

que vinha acompanhando

o sofrimento da gente.

Pois já faz um ano e meio

que até me deu cansaço

de tanto sofrer "picadas"

seja nas mãos ou nos braços.

Coitados dos enfermeiros

embora bons no ofício

encontrar as minhas veias

era grande sacrifício.

Pra quem passou dos "70"

é só lucro doravante

hora de manifestar

gratidão a todo instante.

Hora de falar na morte

um tema q ninguém gosta.

mas que na realidade

é a única proposta.

Minha esposa Sandra Lúcia

como sempre otimista

n/ me enxerga num caixão

mesmo à distante vista.

Isso acaba por ser bom

cheira à longevidade

dando à vida o colorido

do tom da felicidade.

 Mas não esqueçamos da morte

a única realidade

para não nos apegarmos

à MATERIALIDADE.

Se daqui nada levamos

por caixão não ter gavetas

repartamos nosso pão

com os irmãos das sarjetas.

Fui um dia ao cemitério

pra assistir ao velório

de um vizinho e amigo

conhecido por Tenório.

De lá voltei deprimido

de tanto ouvir palavrório

de parentes do "de cujus"

sobre coisas que deploro.

Na verdade, eram filhos

do morto ainda "quentinho"

um irmão dizia ao outro

no ouvido, bem baixinho:

- vou ficar com a AMAROK

e não quero discussão

enquanto o pai trabalhava

cê ficava no "bem bão".

E o outro retrucava:

- isso, de jeito nenhum,

se ficar com a CAMIONETA

quero o sítio de "Mutum".

- o sítio vai pra Maria,

(disse o outro, prontamente)

- que hoje está casada

com o cunhado Zé Vicente.

- Vc está enganado,

cunhado não é parente,

vamos resolver de jeito

que fique só entre a gente.

Nisso a Maria chegou

e quando a conversa ouviu,

logo se esbravejou:

"vão à puta que pariu".

- Não aceito esse acordo,

o sítio é pra mim e pro Zé,

lá tem 3 grandes represas

cheias de Tucunaré.

Além do mais o meu Zé

que nunca quis trabalhar

vai ganhar um bom dinheiro

se aprender a pescar.

- Desse modo eu discordo,

(disse o primeiro irmão)

vcs dois tomem juizo,

assim eu não quero não.

Quando m/ pai comprou ele

uma vez estive lá

na certeza que um dia

poderia desfrutar.

Enquanto isso, Tenório

inerte no seu caixão,

jamais imaginaria

a tamanha confusão.

Pois tanto "ralou" na vida

sem ter tido autoridade

pra transformar os 3 filhos

em família de verdade.

Eis que já era viúvo

no dia em que "partiu"

trabalhou quase sozinho

em tudo que construiu.

Seu modesto patrimônio

q deixou para os herdeiros

tinha mais 100 mil reais,

gado e porcos no chiqueiro.

Peço desculpa ao leitor

se o tema hoje foi esse

na verdade, um assunto,

que não desperta interesse.

Mas, na verdade é algo

que devemos encarar,

pois é sem aviso prévio

que a morte pode chegar!

(*) Valdecy Borges é jornalista e advogado (UFG), filho de Arnaldo Fernandes e de dona Jacy Borges, fundadores do distrito de Jacilândia no município de Itapirapuã. Valdecy nasceu em Bonfinópolis-GO em 1948, morou em Itauçu, mudou-se para Jussara em 1955. Atualmente reside em Goiânia.